domingo, 31 de maio de 2009

Marcas de batom no banheiro


Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada: uma turma de meninas de 12 anos que usavam batom, todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom.

O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia.

Mas, como sempre, na tarde seguinte, lá estavam as mesmas marcas de batom...

Um dia o diretor juntou o bando de meninas no banheiro e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Fez uma palestra de uma hora.

No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram. ...

No outro dia, o diretor juntou o bando de meninas e o zelador no banheiro, e pediu ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho.

O zelador imediatamente pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho.

Nunca mais apareceram marcas no espelho! (Ecaaaaaaaaaaaaaaa) kkkkkkkkkkk

Moral da história: Há professores e há educadores.. .


Comunicar é sempre um desafio!

Por onde andará o meu doutor?

Autor desconhecido.

Hoje, acordei sentindo uma dorzinha...
Aquela dor sem explicação e uma palpitação!
Resolvi procurar um doutor...
Fui divagando pelo caminho...
Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo...
Meu doutor, que curava a minha dor!
Não apenas a do meu corpo, mas a da minha alma...
Que me transmitia paz e calma...

Chegando à recepção do consultório, fui atendida com uma pergunta!:
-"Qual o seu plano?
O meu plano?“ Ahhh! O meu plano é viver mais e feliz!
É dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora!
Mas, a resposta teria que ser outra!
O "meu plano de saúde"...
Apresentei o documento do dito cujo, já meio suada tanto quanto o meu bolso... E aguardei.

Quando fui chamada, corri apressada...
Ia ser atendida pelo doutor, ele que cura qualquer tipo de dor!
Entrei e o olhei...
Surpreendi-me...
Rosto trancado, triste e cansado.
"Será que ele estava adoentado?
É, quem sabe, talvez gripado!”
Não tinha um semblante alegre, provavelmente devido a febre...

Dei um sorriso meio de lado e um bom dia!
Olhei o ambiente bem decorado.
Sobre a mesa à sua frente um computador e no seu semblante a sua dor...
O que fizeram com o doutor?
Quando ouvi a sua voz de repente:
"O que a senhora sente?"
Como eu gostaria de saber o que ele estava sentindo...
Parecia mais doente do que eu a paciente...
“Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação”, e esperei a sua reação. Vai me examinar, escutar a minha voz e auscultar o meu coração (?).

Para a minha surpresa apenas me entregou uma requisição e disse:
- "Peça autorização desses exames para conseguir a realização...”
Quando li quase morri...
"Tomografia computadorizada”, "Ressonância magnética" e "Cintilografia"!
Ai meu Deus! Que agonia!!!
Eu só conhecia uma tal de "abreugrafia"...
Só sabia o que era "ressonar" (dormir), de "magnético" eu conhecia um olhar...
e "cintilar" só o das estrelas!
Estaria eu a beira da morte? De ir para o céu? Iria morrer assim ao léu?

Naquele instante timidamente pensei em falar: “Não terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio”?
O que fazer com essa sensação de vazio?
Observe-me doutor!
O tal "Pai da Medicina", o grego Hipócrates acreditava que,
"A ARTE DA MEDICINA ESTÁ EM OBSERVAR”.
Olhe pra mim...

É bem verdade que o juramento dele está ultrapassado!
Médico não é sacerdote...
Tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano...
Mas, por favor, me olhe!
Ouça a minha história!
Preciso que o senhor me escute e ausculte!
Examine-me!

Estou sentindo falta de dizer até "aquele 33"!
Não me abandone assim de uma vez!
Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança!
Alimente a minha mente e o meu coração...
Dê-me ao menos uma explicação!
O senhor não se informou se eu ando descalça... Ando sim!
Gosto de pisar na areia e seguir em frente deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida, estarei errada?
Ou estarei com o verme do amarelão?
Existirá umas gotinhas de solução?
Será que já existe vacina contra o tédio?
Ou não terá remédio?
Que falta o senhor me faz - meu antigo doutor!
Cadê o Scot, aquele da emulsão?
Que tinha um gosto horrível, mas me deixava forte que nem um "Sansão"!
E o elixir? Paregórico e categórico.

E o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras?
Será que pensei asneiras?
Ahhh! Meu querido e adoentado doutor!
Sinto saudade...
Dos seus ouvidos para me escutar...
Das suas mãos para me examinar...
Do seu olhar compreensivo e amigo...
Do seu pensar
Do seu sorriso que aliviava a minha dor...
Que me dava forças para lutar contra a doença...
E que estimulava a minha saúde e a minha crença...
Sairei daqui para um ataúde?
Preciso viver e ter saúde!
Por favor, me ajude!

Ohhh! Meu Deus cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim...
Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador
e o olhar vago e cansado do doutor!
Precisamos urgente dos nossos médicos amigos...
A medicina agoniza...
Ouço até os seus gemidos...
Por favor!
Tragam de volta o meu doutor!
Estamos todos doentes e sentindo dor!

E peço:

PARA O SER HUMANO UMA RECEITA DE "CALOR“.... E PARA O EXERCÍCIO DA MEDICINA UMA PRESCRIÇÃO DE "AMOR"!!!

“POR ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR?”


domingo, 24 de maio de 2009

Crônica de Martha Medeiros - "Dentro de mim não é um lugar para se viver"

por Martha Medeiros

A Maria Rezende é uma poeta carioca que recentemente lançou um livro encantador chamado "Bendita palavra", onde, entre tantos versos, fui surpreendida por este: "Dentro de mim não é mais um bom lugar para se viver".

Este verso reflete uma necessidade de se exorcizar, um pânico de não detectar dentro de si um abrigo, uma quentura, um espaço aprazível onde caibam todos os nossos fantasmas. A voz que fala através da poeta tem vontade de expulsar-se de si própria, já não reconhece um sol interno - isso sou eu que estou interpretando, Maria fala mais bonito: "Teve um tempo em que esse dentro parecia com o fora/era um ótimo lugar pra uma moça como eu era".
Aí a personagem do poema virou uma moça diferente, hospedou em si uma criatura arrebentada, ferida, nauseabunda, e danou-se, agora ela não é mais um bom lugar para se viver.

Explica tanta coisa, esse sentimento.
Explica a gente não conseguir se relacionar bem com os outros, explica autoflagelo, explica engordar ou emagrecer além do razoável, explica suicídio, explica nosso estrangeirismo mesmo quando sozinhos - ou principalmente na solidão. Como lidar com esse despatriamento, para onde levar nossa mochila, nossa bagagem, nosso eu mesmo pra se instalar em outro corpo? Nascer de novo não dá.
Ou até dá. Até dá.

De vez em quando é necessário a gente se perguntar se dentro de nós é um bom lugar para se viver. Depois de ler Maria Rezende eu tenho me perguntado isso. E a resposta sem nenhum charme intelectual, sem nenhuma espécie de autoaversão, sem nenhuma inclinação underground, ou seja, da forma mais simplória, é que sim, eu sou um bom lugar para se viver.

Dentro de mim há pensamentos demais, o que torna tudo meio apertado, mas tenho tentado dar uma arrumada nessas idéias para que cada uma fique na sua gaveta. Há também sentimentos demais, mas de forma alguma vou expulsá-los, deixo que circulem à vontade pelo meu corpo. Dentro de mim as estações são bem definidas: verão é verão, inverno é inverno. Toca música aqui dentro quase o tempo todo, e há uma satisfação secreta que precisa se manter secreta para não passar por boba. Há crianças e adultos dentro de mim, todos da mesma idade. Aqui dentro existe uma praia e uma montanha coladas uma na outra, parece até Rio de Janeiro, só que os tiroteios são raros. O último bangue-bangue emocional que metralhou minha alma faz quase um ano. Dentro de mim estão muitas lágrimas que não foram choradas pra fora e muitos sorrisos que, de tão íntimos, também guardei. Dentro de mim, às vezes, são produzidas algumas cenas sofisticadas e roteiros de filme B. Como não gostar de viver aqui dentro?
E você, tem sido um bom hospedeiro de si mesmo?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A "Máscara" Social

LYGIA ROCHA mail to:lygiarocha@terra.com.br
(Publicado no jornal Diário Comercial 20/04/2009)

Há poucos dias, o jogador de futebol Adriano declarou em entrevista à imprensa que vai dar um tempo na sua carreira porque “é mais feliz na favela do que na Itália”. Muitas pessoas questionaram como é que uma pessoa famosa, que ganha milhões de dólares por ano e é tratado como ídolo pela torcida local pode fazer semelhante afirmação. Vamos fazer um exercício e analisar alguns fatores que nem sempre percebemos, mas que podem levar a um comportamento como esse.

Depois que ficam famosas, durante algum tempo as pessoas podem se iludir com os “holofotes da mídia”, entretanto passados os primeiros momentos de glória, começam a se cansar. Em geral, todos gostam de se sentir amados, mas pelo que de fato são e não pela figura pública que se tornaram. Isso acontece porque a partir do instante que se transformam em celebridades, perdem a liberdade já que têm que estar sempre se policiando para não cometer nenhuma “gafe”. De certa forma, os ídolos são obrigados a usar uma “máscara” social e adotar comportamentos considerados politicamente corretos, na medida em que passam a servir de exemplo para os seus fãs.

No caso dos jogadores de futebol, então, em que grande parte da torcida é composta por crianças, não devem mais ser fotografados ingerindo bebidas alcoólicas, fumando ou agindo de um jeito que ofenda a “moral e os bons costumes vigentes”. Em hipótese alguma podem fazer arruaças ou arrumar brigas em locais públicos. Não podem nem pensar em tomar uma bebedeira para comemorar uma vitória do seu time ou um acontecimento feliz, ou mesmo ao contrário, para afogar as mágoas por uma derrota, morte de um parente ou por um fora que levaram da namorada.

Em momento algum os ídolos podem se dar ao luxo de andar desarrumados na rua ou agir de maneira “inconveniente” com o público, sob pena da mídia falar que estão “drogados” ou “entrando em decadência”. O excesso de exposição faz com que a maioria deles fique refém da própria fama. Quando estão sendo entrevistados ou quando são abordados por fãs na rua provavelmente se sentem como os animais selvagens que vivem enjaulados no Jardim Zoológico e têm que fazer “gracinhas” para os visitantes. Enfim, não têm mais direito à privacidade. Não podem nem mesmo sair com a família ou fazer um programa doméstico sem serem incomodados.

A maioria dos jogadores de futebol é proveniente das classes baixa e média baixa e morou em subúrbios ou até mesmo em favelas e foi acostumada a ter um relacionamento muito estreito com os seus vizinhos. Nesses lugares, as pessoas são conhecidas na comunidade não só pelo apelido que ganharam dos amigos como pelos seus parentes. Quando são crianças passam a maior parte do tempo brincando soltos pelas ruas com os amigos. Eles têm essa liberdade porque todos os conhecem e precisam de pouco para serem felizes. Não têm que representar nenhum papel social para serem aceitos pelo grupo uma vez que estão no seu habitat.

Essa liberdade que perdem com a fama, passa a incomodar depois de algum tempo porque, de modo geral, as verdadeiras amizades são “enxotadas” pelo novo grupo de relações. Sim, porque eles vivem cercados pelas conhecidas “marias chuteiras” e por pessoas que só querem usufruir do seu dinheiro e da sua glória para freqüentar os ambientes mais badalados. Muitos jogadores só percebem a falsidade “desses amigos” a partir do momento em que desaparecem quando eles estão em franca decadência ou até mesmo arruinados, já que gastaram muito dinheiro patrocinando festas e diversões para esse bando de “desocupados”.

A maioria das pessoas não entende desabafos como esse de Adriano porque não percebe a importância do papel representado por uma família estruturada e um círculo de amizades verdadeiras na vida de alguém. Muitos ídolos são “criados e sugados” pela mídia e não têm estrutura psicológica para agüentar o “tranco”. Eles se deixam enganar pelas aparências e quando dão por si foram abandonados por todos que os adulavam devido a sua fama e dinheiro e, na maioria das vezes não conseguem mais se recuperar. A jornalista Cora Ronai na sua coluna do jornal O Globo foi muito feliz quando observou que “Nós não vivemos só na nossa casa. Vivemos no nosso país, na nossa língua, nos nossos costumes”.

A máscara social utilizada por muita gente famosa, grande parte das vezes encobre sua personalidade na medida em que fazem uso dela para serem aceitas pelos grupos sociais a que ascenderam. Muitos chegam até a contratar uma equipe de assessores para ensiná-los a se vestir, a comprar e decorar a casa assim como para apresentá-los a pessoas importantes. Nas recepções da alta sociedade, por exemplo, muitos convidados que têm grande apetite comem antes em casa porque sabem que serão “julgados” pela quantidade de comida que ingerirem e não querem parecer famintos.

Essa “máscara” também é muito utilizada pelos participantes de “reality shows” como o programa BBB para conquistar a simpatia do público. Apesar de negarem, os jogadores procuram fazer um papel de “bom moço”, “amigo”, “ingênuo” e/ou “prestativo” para ganhar o jogo e acusam os demais de estarem “jogando” como sinônimo de “enganando”. Quando a sua estratégia não é bem sucedida e são eliminados do jogo, chegam até a chamar de “sem caráter” os participantes que se deram melhor.

Enfim, a maior necessidade do ser humano é a aceitação social. As pessoas só consideram ter sucesso quando o seu grupo social reconhece. Afinal, como perguntou com muita acuidade Cora Ronai, “Quem disse que uma pelada entre amigos e um churrasco na laje valem menos do que uma Ferrari?”

sábado, 2 de maio de 2009

Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco

Por José Tadeu Arantes


Na biologia, surge uma nova hipótese que promete revolucionar toda a ciência


Era uma vez duas ilhas tropicais, habitadas pela mesma espécie de macaco, mas sem qualquer contato perceptível entre si. Depois de várias tentativas e erros, um esperto símio da ilha "A" descobre uma maneira engenhosa de quebrar cocos, que lhe permite aproveitar melhor a água e a polpa. Ninguém jamais havia quebrado cocos dessa forma. Por imitação, o procedimento rapidamente se difunde entre os seus companheiros e logo uma população crítica de 99 macacos domina a nova metodologia. Quando o centésimo símio da ilha "A" aprende a técnica recém-descoberta, os macacos da ilha "B" começam espontaneamente a quebrar cocos da mesma maneira.
Não houve nenhuma comunicação convencional entre as duas populações: o conhecimento simplesmente se incorporou aos hábitos da espécie. Este é uma história fictícia, não um relato verdadeiro. Numa versão alternativa, em vez de quebrarem cocos, os macacos aprendem a lavar raízes antes de comê-las. De um modo ou de outro, porém, ela ilustra uma das mais ousadas e instigantes idéias científicas da atualidade: a hipótese dos "campos mórficos", proposta pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake. Segundo o cientista, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material.Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes.Sua atuação é semelhante à dos campos magnéticos, da física. Quando colocamos uma folha de papel sobre um ímã e espalhamos pó de ferro em cima dela, os grânulos metálicos distribuem-se ao longo de linhas geometricamente precisas. Isso acontece porque o campo magnético do ímã afeta toda a região à sua volta. Não podemos percebê-lo diretamente, mas somos capazes de detectar sua presença por meio do efeito que ele produz, direcionando as partículas de ferro. De modo parecido, os campos mórficos distribuem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados. A analogia termina aqui, porém. Porque, ao contrário dos campos físicos, os campos mórficos de Sheldrake não envolvem transmissão de energia. Por isso, sua intensidade não decai com o quadrado da distância, como ocorre, por exemplo, com os campos gravitacional e eletromagnético. O que se transmite através deles é pura informação. É isso que nos mostra o exemplo dos macacos. Nele, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie.
O processo responsável por essa coletivização da informação foi batizado por Sheldrake com o nome de "ressonância mórfica". Por meio dela, as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva. Em nosso exemplo, a ressonância mórfica entre macacos da mesma espécie teria feito com que a nova técnica de quebrar cocos chegasse à ilha "B", sem que para isso fosse utilizado qualquer meio usual de transmissão de informações. Parece telepatia. Mas não é. Porque, tal como a conhecemos, a telepatia é uma atividade mental superior, focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos da espécie humana. A ressonância mórfica, ao contrário, é um processo básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo. Sheldrake apresenta um exemplo desconcer- tante dessa propriedade.Quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório - diz ele -, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros.
Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. Em 1981, quando ele publicou seu primeiro livro, A New Science of Life (Uma nova ciência da vida), a obra foi recebida de maneira diametralmente oposta pelas duas principais revistas científicas da Inglaterra. Enquanto a New Scientist elogiava o trabalho como "uma importante pesquisa científica", a Nature o considerava "o melhor candidato à fogueira em muitos anos".
Doutor em biologia pela tradicional Universidade de Cambridge e dono de uma larga experiência de vida, Sheldrake já era, então, suficientemente seguro de si para não se deixar destruir pelas críticas. Ele sabia muito bem que suas idéias heterodoxas não seriam aceitas com facilidade pela comunidade científica. Anos antes, havia experimentado uma pequena amostra disso, quando, na condição de pesquisador da Universidade de Cambridge e da Royal Society, lhe ocorreu pela primeira vez a hipótese dos campos mórficos. A idéia foi assimilada com entusiasmo por filósofos de mente aberta, mas Sheldrake virou motivo de gozação entre seus colegas biólogos. Cada vez que dizia alguma coisa do tipo "eu preciso telefonar", eles retrucavam com um "telefonar para quê? Comunique-se por ressonância mórfica".
Era uma brincadeira amistosa, mas traduzia o desconforto da comunidade científica diante de uma hipótese que trombava de frente com a visão de mundo dominante. Afinal, a corrente majoritária da biologia vangloriava-se de reduzir a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida. A realidade, porém, é exuberante demais para caber na saia justa do figurino reducionista.
Exemplo disso é o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário. Como explicar que um aglomerado de células absolutamente iguais, dotadas do mesmo patrimônio genético, dê origem a um organismo complexo, no qual órgãos diferentes e especializados se formam, com precisão milimétrica, no lugar certo e no momento adequado?
A biologia reducionista diz que isso se deve à ativação ou inativação de genes específicos e que tal fato depende das interações de cada célula com sua vizinhança (entendendo-se por vizinhança as outras células do aglomerado e o meio ambiente). É preciso estar completamente entorpecido por um sistema de crenças para engolir uma "explicação" dessas. Como é que interações entre partes vizinhas, sujeitas a tantos fatores casuais ou acidentais, podem produzir um resultado de conjunto tão exato e previsível?
Com todos os defeitos que possa ter, a hipótese dos campos mórficos é bem mais plausível. Uma estrutura espaço-temporal desse tipo direcionaria a diferenciação celular, fornecendo uma espécie de roteiro básico ou matriz para a ativação ou inativação dos genes.Ação modesta Abiologia reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a seqüência exata dos aminoácidos na construção dessas macromoléculas. Os genes ditam essa estrutura primária e ponto.
"A maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não estão programadas no código genético", afirma Sheldrake. "Dados os genes corretos, e portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que a casa se construa espontaneamente.
"A morfogênese, isto é, a modelagem formal de sistemas biológicos como as células, os tecidos, os órgãos e os organismos seria ditada por um tipo particular de campo mórfico: os chamados "campos morfogenéticos". Se as proteínas correspondem ao material de construção, os "campos morfogenéticos" desempenham um papel semelhante ao da planta do edifício. Devemos ter claras, porém, as limitações dessa analogia. Porque a planta é um conjunto estático de informações, que só pode ser implementado pela força de trabalho dos operários envolvidos na construção. Os campos morfogenéticos, ao contrário, estão eles mesmos em permanente interação com os sistemas vivos e se transformam o tempo todo graças ao processo de ressonância mórfica.
Tanto quanto a diferenciação celular, a regeneração de organismos simples é um outro fenômeno que desafia a biologia reducionista e conspira a favor da hipótese dos campos morfogenéticos. Ela ocorre em espécies como a dos platelmintos, por exemplo. Se um animal desses for cortado em pedaços, cada parte se transforma num organismo completo. Forma originalComo mostra a ilustração da página ao lado, o sucesso da operação independe da forma como o pequeno verme é seccionado. O paradigma científico mecanicista, herdado do filósofo francês René Descartes (1596-1650), capota desastrosamente diante de um caso assim. Porque Descartes concebia os animais como autômatos e uma máquina perde a integridade e deixa de funcionar se algumas de suas peças forem retiradas. Um organismo como o platelminto, ao contrário, parece estar associado a uma matriz invisível, que lhe permite regenerar sua forma original mesmo que partes importantes sejam removidas.A hipótese dos campos morfogenéticos é bem anterior a Sheldrake, tendo surgido nas cabeças de vários biólogos durante a década de 20. O que Sheldrake fez foi generalizar essa idéia, elaborando o conceito mais amplo de campos mórficos, aplicável a todos os sistemas naturais e não apenas aos entes biológicos. Propôs também a existência do processo de ressonância mórfica, como princípio capaz de explicar o surgimento e a transformação dos campos mórficos. Não é difícil perceber os impactos que tal processo teria na vida humana.
"Experimentos em psicologia mostram que é mais fácil aprender o que outras pessoas já aprenderam", informa Sheldrake. Ele mesmo vem fazendo interessantes experimentos nessa área. Um deles mostrou que uma figura oculta numa ilustração em alto constraste torna-se mais fácil de perceber depois de ter sido percebida por várias pessoas (veja o quadro na página ao lado). Isso foi verificado numa pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África em 1983. Em duas ocasiões, os pesquisadores mostraram as ilustrações 1 e 2 a pessoas que não conheciam suas respectivas "soluções". Entre uma enquete e outra, a figura 2 e sua "resposta" foram transmitidas pela TV. Verificou-se que o índice de acerto na segunda mostra subiu 76% para a ilustração 2, contra apenas 9% para a 1.
AprendizadoSe for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá aplicações óbvias no domínio da educação. "Métodos educacionais que realcem o processo de ressonância mórfica podem levar a uma notável aceleração do aprendizado", conjectura Sheldrake. E essa possibilidade vem sendo testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham.Outra conseqüência ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de Carl Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição ao modelo reducionista de Sigmund Freud (leia o artigo "Nas fronteiras da consciência", em Globo Ciência nº 32).
Sem excluir outros fatores, o processo de ressonância mórfica forneceria um novo e importante ingrediente para a compreensão de patologias coletivas, como o sadomasoquismo e os cultos da morbidez e da violência, que assumiram proporções epidêmicas no mundo contemporâneo, e poderia propiciar a criação de métodos mais efetivos de terapia.
"A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mal", afirmou Sheldrake a Galileu. "Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina. Pois nossas ações podem influenciar os outros e serem repetidas". De todas as aplicações da ressonância mórfica, porém, as mais fantásticas insinuam-se no domínio da tecnologia. Computadores quânticos, cujo funcionamento comporta uma grande margem de indeterminação, seriam conectados por ressonância mórfica, produzindo sistemas em permanente transformação. "Isso poderia tornar-se uma das tecnologias dominantes do novo milênio", entusiasma-se Sheldrake.
Sem nenhum contato entre si, macacos de uma ilha incorporam os conhecimentos desenvolvidos na outra.É os campos invisíveis comandariamprocessos e atitudes: da formação do embrião aos modismos.
O desenvolvimento do embrião (ao alto): a ciência reducionista não explica como é que células iguais formam órgãos tão diferentes. Nas outras imagens, a moda do piercing e da tatuagem e a febre do futebol, que toma conta do Brasil nas copas do mundo: comportamentos que poderiam ser influenciados pela ressonância mórfica.
É mais fácil aprender o que já foi aprendido por outros: a idéia que pode mudar o ensinoA regeneração do platelminto (no pé da página): um fenômeno que desafia a biologia mecanicista. Na outra imagem, uma aula no interior do Brasil: processo que pode estar sendo facilitado pelo ensino praticadoem qualquer parte do mundoDescubra as figuras ocultas.
Um experimento coordenado por Sheldrake mostrou que é mais fácil identificar uma figura oculta numa ilustração em alto contraste depois de ela já ter sido percebida por outras pessoas. O índice de acerto para a ilustração 2 cresceu 76% depois de ela ter sido transmitida pela televisão. O da ilustração 1, que não foi televisionada, subiu apenas 9%. A enquete foi realizada na Europa, nas Américas e na África e as pessoas entrevistadas não conheciam de antemão as "respostas". As ilustrações 3 e 4, no pé da página, estão sendo publicadas atualmente na Internet pela revista espanhola El Mercurio.
Quem quiser participar da pesquisa deve acessar o endereço http://www.mercurialis.com/ciencia/sheldrake/ introduccion.html

AnoteSite na internet:


www.sheldrake.orgLivros em português:O Renascimento da Natureza: o Reflorescimento da Ciência e de Deus, de Rupert Sheldrake, Ed. CultrixCaos, Criatividade e o Retorno do Sagrado: Triálogos nas Fronteiras do Ocidente, de Ralph Abraham, Terence McKenna e Rupert Sheldrake, Ed. Cultrix/PensamentoLivros em inglês:A New Science of Life: the Hipothesis of Morphic Resonance, de Rupert SheldrakeThe Presence of the Past: Morphic Resonance and the Habits of Nature, de Rupert SheldrakeNatural Grace: Dialogues on Creation, Darkness and the Soul in Spirituality and Science, de Matthew Fox e Rupert SheldrakeThe Physics of Angels: Exploring the Realm where Science and Spirit Meet, de Matthew Fox e Rupert SheldrakeSeven Experiments that Could Change the World: a Do-It-Yourself Guide to Revolutionary Science, de Rupert SheldrakeOs livros em inglês podem ser adquiridos, via Internet, no endereço www.amazon.comonância mórfica